domingo, 15 de fevereiro de 2009

O espetáculo do Legislativo

Felipe Menezes

O adultério político no Congresso Nacional é deplorável. O local onde é destinado à solução de problemas do país não passa de um simples passatempo para certos parlamentares. Escândalos e baixarias do pior escalão possível acontecem lá. Lá, onde estes se julgam soberanos da razão, aproveitam uma sociedade brasileira desinteressada, em sua maioria, pelos problemas governamentais do país, e aí a zona "político-ideológica" vai à forra.

O ex-deputado do DEM, Edmar Moreira, de Minas Gerais, é um dos que não fugiram de suas origens partidárias de fidelidade pública. Ele foi aquele parlamentar que construiu um castelo avaliado em R$ 25 milhões, omitido de sua declaração patrimonial de deputado. Além do acumulo de dívidas previdenciária e trabalhista.

Santo ele não é, mas não será punido, apesar de afirmar "inocentemente" que a Câmara dos Deputados (principalmente ele) era incapaz de julgar casos de colegas devido à amizade. Que bonito! Moreira se crucifica pelos amigos.

Os dias se passarão e o show pirotécnico do "rei do castelo" será arquivado. O seu sucessor, além de ser do mesmo partido, é herdeiro do carlismo, Antônio Carlos Magalhães Neto. Então, nada acontecerá porque o coleguismo prevalece.

O show do circo dos horrores continuará e mais casos esquizofrênicos virão. É triste, mas é verdade.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A jovem guarda em 2010

Felipe Menezes

Desde o biênio de 1991-92, os peemedebistas lutavam para fazer a dobradinha política partidária no Congresso Nacional. Dezesseis anos depois, o PMDB ressurge das cinzas para tentar prosperar novamente, deixa o banco de reservas e reconquista a camisa oficial. Com Michel Temer (SP) na Câmara, e José Sarney (AP) no Senado, ambos pela terceira vez no cargo da presidência, o partido reestrutura-se e cresce. Sobretudo no Senado.

Quando Sarney lançou sua candidatura, Lula fez caso. Ficou “aborrecido”. Pensavam que os laços de amizade entre o senador e o presidente foram afetados. Mas engana-se.

Antes de o peemedebista candidatar-se a Presidência do Senado, Luiz Inácio Lula da Silva vigorava para que Tião Viana (PT-AC) fosse eleito. Assim daria equilíbrio no Congresso. Michel Temer (PMDB-SP) na Câmara, e o petista no Senado. Uma posição de equilíbrio justa.

Entretanto, Tião poderia ter sido eleito, caso o presidente da República decidisse não ter influenciado nas eleições. Mas, na verdade, Lula quem foi “influenciado”, devido à pressão de Sarney, que o fez mudar de ideia. Além disso, depois da aliança de PT e PSDB, o presidente caiu fora do barco. Caso Tião tivesse vencido, Lula teria problemas, pois apoiaria os tucanos em 2010. Sarney dá tranquilidade a Lula para a eleição de seu sucessor em 2010, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

No entanto, Sarney saiu eleito da disputa devido não só por sua biografia, mas pela esperteza. Planejou o que iria dizer, mas, no último momento, optou pela “inspiração”, no qual ganhou forças na reta final pela criatividade. Mostrou-se (para os parlamentares) forte e mais do que preparado para ser o eleito. E sustentou: “Modesto, humilde, de boa convivência. Eu reconheço que há apenas uma coisa que eu não fiz nesta Casa: não consegui fazer um inimigo.” E caiu nas graças. Ganhou a eleição.

Tudo isso graças a Renan Calheiros (PMDB-AL). O establishment, como disse Arthur Virgílio (PSDB-AM), volta ao cenário político com força total. Para fortificar-se na Casa, o senador alagoano tentou re-eleger Garibaldi Alves (RN). Mas foi em vão. Aproveitou que Sarney recebia pressões de outros parlamentares, e, sem medir esforços, o “convocou”. Renan será o principal interlocutor da base governista junto a Lula. Com isso, ganha importância nas negociações para formação das chapas para a Presidência da República.

No fim das contas, o resultado, para o governo, foi mais do que satisfatório. A meta não é o 2009, mas 2010.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O romance policial

Felipe Menezes

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva “decretou” quem caberá decidir o término das “discussões” diplomáticas de Brasil e Itália. A Suprema Corte brasileira. Cabe agora ao Supremo Tribunal Federal (STF) tomar a decisão-chave sobre o “escândalo-político-ideológico” da concessão de refúgio ao italiano Cesare Battisti, refugiado político, ex-militante de esquerda e escritor. Um homem de currículo fora do comum.

O fuzuê iniciou quando a Itália discordou da decisão de “boa-fé” de Tarso Genro conceder asilo político a Battisti. A atitude do ministro da Justiça, para os italianos, é de “má-fé”. Para Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, o país continuará a tomar medidas para obter a extradição do ex-militante. Mas considera esgotada a negociação com o Executivo brasileiro. E, no entanto, quando a Itália pergunta: “por que o Brasil negou a extradição?”, surge o silêncio, do outro lado da linha.

Sempre positivista, Lula afirma que as relações com a Itália não foram e não serão abaladas. Mas persiste que a medida de Tarso foi “devidamente correta”. O “homem-polêmico” [Tarso] ressaltou que não está arrependido sobre a concessão de refúgio a Battisti, além de reclamar que foi mal-interpretado. “Novamente”.

Agora com a decisão nas mãos do STF, Berlusconi aposta no Poder Judiciário para reverter à concessão de refúgio a Battisti. O presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, disse que o ex-extremista terá decisão justa. Independentemente do resultado, terá bate-boca, outra vez. O fato consiste pela assimetria de ideias entre Executivo e Judiciário.

Enquanto Brasil e Itália discute, na prisão, Battisti reclama. Faz rezinga por ainda estar preso. Na Papuda, penitenciária em Brasília, onde reside atualmente, ele nega qualquer atuação dos crimes. Diz estar “apreensivo” com o seu futuro, além de declarar inocente. Vida difícil essa, hein?!

De fato, no cenário atual, tomar decisões precipitadas e sem o mínimo de cautela política se tornou “coisa” do dia-a-dia. Mas, como perceptível, ocorre que a imagem do país, lá fora, decai. Só resta saber quem será o favorito da trama.